7/04/2011

Análise do filme - Dom Juan de Marco - da perspectiva psicanalítica


Don Juan de Marco

Em primeiro lugar é preciso discorrer sobre o primeiro contato no sentido analítico que Don Juan estabelece com Dr. Mickler que assume o papel de Don Octavio, esse primeiro encontro, é um encontro único e singular, e é devido a esse primeiro contato que o paciente irá aceitar ou não o seu analista, estabelecendo empatia. Freud (1914) diz que, no início do tratamento, o paciente não recorda coisa alguma, mas sim expressa pela atuação. Ele reproduz não como lembrança, mas como ação; repete-o, sem, naturalmente, saber que o está repetindo. O autor ainda fala da relação existente entre a compulsão à repetição com a transferência e a contratransferência com seu médico. Isso porque a transferência é apenas um fragmento da repetição e esta faz parte da resistência.
Um filme muito detalhado, onde a fantasia predomina, em certos momentos não se sabe o que é verdade ou fantasia, ate por parte do médico Dr. Mickler que acaba entrando nos delírios de Don Juan, depreende-se que ele deseja aquele mundo para ele. Don Juan transfere seus desejos para o Dr. que assume uma visão mais feliz do mundo que esta a sua volta.
Observa-se ainda o complexo de Édipo, pela adoração que Don Juan possuía pela mãe, projetando em cima disso seu personagem, uma forma de dizer que sua mãe era pura e que o mundo era sujo. Esse personagem ia além da própria mente, onde ele próprio questiona com Dr. Mickler se aquilo tudo é consciente ou fantasistico, o que leva outro médico da clinica afirmar que ele é esquizofrênico.
Fica claro o vínculo que Don Juan cria como terapeuta, ele torna-se seu confidente, amigo. Existe uma resistência para que o médico medique o paciente, ele próprio não deseja quer descobrir o que se passa no mundo de Don Juan, talvez houvesse medo de não mais presenciar aquele mundo tão desejado de Don Juan.
Para se defender dos acontecimentos traumáticos de sua vida ele utiliza mecanismos de defesa como a negação, negando a todo tempo sua realidade e se isolando em seus pensamentos, já que dessa forma os fatos marcantes ficariam armazenados em seu inconsciente.
Os traços Narcísicos são demonstrados por todo filme através da sedução, charme, forma sexual, virilidade que ele apresenta, tanto para mulheres quanto para homens.
Conclui-se que ele é um neurótico que apresenta traços psicóticos com uso de mecanismos de defesa, podemos verificar tal informação ao final do filme, quando Don Juan aceita ser medicado e assim sai do surto psicótico no qual se encontrava, relatando sua real historia, é a capacidade de transportá-las para uma ação produtiva no mundo exterior que dará o sentido de realidade. Talvez as mentiras compulsivas sirvam, em última instância, a esse fim, uma tentativa de modificação que inverteu a lógica e busca no mundo exterior a mudança e construção de identidade pertencente ao subjetivo e ao mundo interno. Trazê-las para o divã será sempre uma tentativa de recolocar a questão, entendê-la e transformá-la em ação produtiva de realização de um desejo em um ego bem aparelhado. Entre o delírio, o devaneio e a fantasia criativa, ou ainda potência criativa, encontraremos abundante material para ser, de alguma maneira trabalhado, e que poderá assumir, ali, entre quatro paredes aspectos de releitura dos vínculos estabelecidos por aquele ser que sofre.

Alessandra Araujo 1º semestre de 2011

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